sábado, 28 de março de 2009

Somente Mariana

Mariana olhava o mar na expectativa que este lhe trouxesse as soluções para os seus enigmas. Sentada na beira da praia procurava na rebentação de cada onda respostas.

Escutava, atentamente, a ligeira brisa que se fazia sentir em busca das suas memórias. Memórias perdidas no tempo, num passado pouco longínquo e no entanto mais distante do que nunca. A distância que a separava da pessoa que havia sido no passado era tamanha que Mariana sentia-se perdida ao julgar ser incapaz de a encurtar. Não tinha ilusões, provavelmente jamais conseguiria vencer esta distância, mas conseguir encurtá-la já seria um feito tão grande.

Quis, talvez um destino traiçoeiro, privá-la das suas recordações, que permaneciam teimosamente ausentes do presente, como se estivessem, contra a sua vontade, encerradas num qualquer compartimento da sua alma, trancadas com mil e um cadeados.

Mariana procurava em cada grão de areia daquela praia uma imagem, a recordação de uma voz, de um sorriso, de um nome. Meu Deus, como queria lembrar-se dos traços de um qualquer rosto.

De que valia a sua existência se não se conhecia!?

Tens que ter paciência Mariana! – Repetia para si mesma, recordado as palavras da Dr.ª Matilde, a médica que acompanhava o seu caso. - O tempo, somente o tempo, será capaz de revelar o que agora se afigura como um segredo mais do que bem guardado. Somente o tempo dirá se serei capaz de encontrar a chave para o meu passado, um acesso livre e sem restrições para o livro das minhas memórias.

Mas tempo é coisa que não se tem quando a necessidade de algo é premente! Quem teria tempo numa situação destas?! Mariana, não podia deixar de recear as respostas. E se o que viesse a descobrir a fizesse desejar esquecer de tudo novamente?! Não seria melhor continuar uma vida na ignorância, afinal águas passadas não movem moinhos, segundo dizem.

Presa nos seus pensamentos, Mariana comtempla a beleza da natureza. Apesar de tudo, podia sentir-se uma felizarda... escuta, ao longe, o que lhe parece serem latidos familiares. O som aproxima-se, Mariana levanta-se e avista Mel, uma Golden Retriever de tenra idade, alegre, ágil, forte e com um carácter imensamente dócil.

Assim que chega perto de Mariana, Mel executa uma espécie de dança, pulando à sua volta. A expressão mansa da cadela transmitia-lhe paz. Uma paz preciosa a todo o instante. Mel latia insistentemente como se falasse com Mariana.


Sim, Mel...Eu sei que devem ser horas para almoçar... Acabo sempre por perder a noção do tempo de cada vez que olho para este mar! Vamos!! – Diz Mariana..

(continua)

2 comentários:

Ana disse...

O Mar tem este efeito no ser humano... entramos por ele adentro através do olhar, perdemo-nos nas ondas da introspecção, do auto-conhecimento... às vezes encontramos respostas, outras nem por isso... mas saímos dele sempre mais ricos, isso sem sombra de dúvida...

Madalena disse...

@ Ana,

O mar..ai o mar, se o mar falasse... O Mar é talvez aquele que me conhece melhor, que conhece os meus sonhos, as minhas angústias, medos e segredos...são muitas as horas passadas em frente ao mar, sozinha, a olhar o horizonte e o rebentar das ondas a tentar encontrar respostas e soluções...Adoro o mar!!!