sábado, 31 de janeiro de 2009

Os diferentes significados da prudência....

O inesperado aconteceu...a catástrofe ficou fechada algures num cofre de alta segurança cujo código de acesso caiu no esquecimento da única pessoa com poderes especiais para evitar catastrofes, e não estamos, obviamente, a referir-nos a catastrofes naturais, nem nada que se pareça....o mundo não acaba e a vida não deixa de continuar quando, subitamente, se digita um código de acesso a uma catástrofe emocional, sendo que, espero que os meus queridos amigos ou somente curiosos leitores percebam, que a palavra até agora tão repetida não é mais que uma hipérbole, procurando somente reforçar que, no dia a dia da vida de todos nós, há expectativas, detalhes, pormenores, ideias, desejos e anseios cuja ausência ou não concretização parecem verdadeiras catástrofes, neste caso da alma, que é aquela que busca nestes o seu alimento e forma de evoluir.


Mariana deveria dar pulos de alegria, afinal, o inesperado não só foi repentino como agradável e tinha-a apanhado desprevenida, não fosse essa a razão da existência do termo inesperado...algo que nos apanha de surpresa, algo com que não contamos, algo que verdadeiramente não esperamos.
Mariana queria dar pulos de alegria! Queria sorrir como se fosse a primeira vez em muito tempo que o sorriso aparecia sem esforço, acompanhado de gargalhadas de uma boa disposição rara. Contudo, algo se passava! Na alma de Mariana as palavras gritavam por prudência e os gestos e emoções suplicavam-lhe cautela!
Mariana queria pular, saltar...mas o corpo não acompanhava a vontade da sua alma, as suas pernas pareciam, repentinamente, pesar toneladas, como se estivessem fixas ao pavimento que Mariana pisava àquela hora da madrugada, como se a obrigassem a aceitar que qualquer pequena amostra de alegria era imprudente, e como tal, apesar da sua alma brilhar por dentro e do seu olhar ganhar vida, o corpo de Mariana tinha vontade própria, independente das ordens e desejos da alma, tornando um gesto tão banal como o pular ou saltar de alegria num esforço sobrenatural, e como tal, interdito ao mais comum dos mortais.
Este ser verdadeiramente invulgar, com capacidades e poderes especiais de guardar catastrofes em cofres fortes, era tão poderoso que detinha o dom de conseguir transformar palavras, objectos e cenas da vida comum habitualmente triviais em pequenos tesouros! Como surgindo do nada, um pedaço de papel improvisado transformara-se num guardanapo do tecido mais nobre, um simples copo de vinho apresentava-se como um nectar apenas acessível a Reis e Raínhas, Deuses e personagens de contos de fadas!
Mariana parecia incrédula, acreditava, há muito tempo, que lhe tinha sido vedado o acesso - por alguma razão que não tinha ainda descortinado - a lidar com seres com tamanhos poderes. Ora se tudo na vida acontecia, segundo dizem, por alguma razão, Mariana resignou-se a este impedimento, apesar de se conhecer como uma lutadora. A alma pulava de alegria, mas os seus pés recusavam-se a outra coisa que não fosse estar seguros e firmes no chão que pisava.
Mariana escuta ao longe uma melodia que lhe parecia familiar. A melodia aproxima-se de Mariana a passos largos e esta reconhece o som habitual do relógio a despertá-la para mais um dia de vida real. O som do despertador insiste em tirar Mariana do mundo dos sonhos e Mariana acorda apreensiva, cautelosa...na dúvida entre enfrentar a realidade ou continuar com o sonho, com medo que ao deixar o conforto dos lençóis, perdesse também o direito ao ser com poderes especias de enclausurar catastrofes em cofres, transformar papel em tecido nobre e vinho num néctar apenas digno de personagens de contos de fadas.
Mariana obriga-se a enfrentar um novo dia! Na dúvida, Mariana sorri com alma, recorda o duplo click, mas pisa cada centímetro de chão com ambos os pés, e com prudência para não tropeçar e cair...



1 comentário:

Ana disse...

É como dizes, as coisas acontecem sempre por uma razão... e quando têm de acontecer! Resta-nos acreditar que acontecerão um dia, e sempre por uma boa razão!