domingo, 19 de abril de 2009

Somente Mariana (II)

Da memória dos afectos Mariana guardava algumas pistas no seu frágil corpo, nos 160 cms, de uma magreza acentuada pelas recentes dificuldades que enfrentara na vida. Mariana acariciava todas as noites antes de dormir a pequena cicatriz horizontal que guardava na zona do baixo-ventre.
Era estranha a sensação que recebia a cada toque e passagem que fazia com os seus dedos trémulos naquela zona. Era evidente que havia dado à luz. Mesmo perdida nas memórias do passado Mariana sentia que havia tido esse papel - o de Mãe - ...ainda que de uma forma assustadora, não conseguisse recordar nada mais.
Por vezes adormecia a imaginar como teria sido a sua vida, como seria como mãe, ainda que sentisse que fazia parte da sua natureza, sentimento que deve visitar a grande maioria das mulheres, pelo menos numa qualquer altura da vida.
Que partida a vida lhe pregava, roubando-lhe as memórias e deixando cravadas no corpo marcas de tamanha força e importância. Era um fardo bastante pesado, este que carregava nos últimos tempos.
O corpo dava sinal de cansaço, a mente ia adormecendo ao sabor destes difíceis pensamentos. Marina puxou o cobertor, aconchegando-se nos lençóis. Apertou com convicção o baixo-ventre, como se o acto lhe trouxesse respostas, e deixou-se adormecer. Quem sabe o amanhã não lhe traria as respostas que tanto buscava... Não desistiria nunca do seu passado,
e das suas memórias. Acreditava no poder do tempo. Um tempo que agora parecia perdido...

3 comentários:

trintinha disse...

Gosto desta blogonovela by Madalena. Para quando um novo capítulo? Beijinhos grandes

Madalena disse...

@ Trintinha,

Olá amiga! Tenho que descobrir primeiro que raio aconteceu à Mariana que a fez perder a memória!!! Isto de escrever uma história, com vários capitulos, não é tão fácil como parece!! Bjocas

Nina disse...

Por vezes "perdemos a memória" com medo de enfrentar os obstáculos...
mas o maior obstáculo reside na cabeça de cada um!